Autor: José Rui

Uma dificuldade prevista

Charles Burns
Ilustração de Charles Burns.

Quando a pandemia começou oficialmente e de forma desastrosa para a economia, principalmente para a pequena economia, designadamente para as poucas livrarias independentes que ainda existem, soubemos imediatamente que se mundialmente se manda fechar tudo em plena Primavera e Verão, a situação só poderia piorar no Outono e Inverno. Pela lógica aplicada anteriormente, já deveria estar tudo fechado há muito tempo, mas considerando os resultados iniciais que por incrível coincidência… coincidiram com a chegada do Verão e melhoria do tempo, com a economia de rastos, com o SARS-Cov-2 a ameaçar tornar-se endémico e finalmente, sem qualquer margem de manobra, as nossas autoridades continuam a expelir medidas avulsas. Hoje, fechamos ao Sábado depois das 13h00, amanhã não sabemos. E como pela natureza do vírus, há um desfasamento de 15-20 dias entre medidas adoptadas e resultados, as “soluções” vão-se sobrepondo e atropelando sem realmente grande relação entre causa e efeito.
Ainda não fazemos o apelo a que nos salvem, como tantas e tantas livrarias por esse Mundo fora, das mais icónicas como a Strand em Nova Iorque, às mais anónimas e desconhecidas. Mas fazemos o apelo sincero a que nos visitem e que se possível, comecem a antecipar eventuais compras de Natal, porque realmente não sabemos como vai ser em Dezembro. Gostando o cliente típico de deixar tudo para a última da hora, não é pedir pouco. (Obviamente, sempre cumprindo as normas já conhecidas, que têm sido cumpridas sem uma única excepção, o que agradecemos.) Como época natalícia, calculamos sem dificuldade que irá ser certamente a pior em quase 30 anos de existência.
Há uma grande diferença relativamente ao início da pandemia, que é continuarmos a receber as encomendas e as novidades dos EUA. Todas as editoras, também a DC, TKO, brevemente também acessórios, bags e boards da BCW, está tudo a funcionar quase normalmente. Assim sendo, constatamos uma vez mais que para ultrapassar esta crise, só dependemos de nós e da nossa comunidade de amigos e clientes. A vossa visita é fundamental.
Para quem preferir não nos visitar pessoalmente, continuamos a enviar por MRW para todo o país. A vossa livraria online está agora a caminho dos 14.000 títulos e muito agradecemos as vossas encomendas. Obrigado e muita saúde para todos.

Vincente Pinto de Abreu (1966-2020)

Vicente Pinto de Abreu
A imagem “ligeiramente modificada” é da Alínea A, onde podem ouvir alguns sets do Vicente.

O Vicente era um cliente (o 29) e um amigo. Gostava muito de música, de cinema, de livros. Na banda desenhada tinha um gosto eclético mas muito bem definido, tendia para os independentes americanos e também o franco-belga de outros tempos. Para ele, Tintin e Peanuts eram as melhores bds de todos os tempos e não devia de andar muito longe da verdade. Mantinha no Porto uma actividade como DJ onde por vezes integrava o colectivo “Os 7 Magníficos”. No dia 31 de Julho, se nos visitarem e a música for disco, funk ou talvez um pouco de soul, é uma lista baseada nos sets do Vicente.
“Observatório ao posto de controle… estamos a seguir a marcha do foguetão…”
“Está? Está? Aqui Terra… Aqui, Terra… Está? Está? Foguetão lunar responda… Está? Está? Foguetão lunar… Responda…”