Carbono Zero

Falou-se muito da conferência COP26, onde líderes que viajaram em centenas de jactos privados discutem e tomam decisões por milhões de pessoas, a maior parte das quais nem viaja. Discutiu-se muito, para mais uma vez adiar algumas décadas e para as gerações futuras a resolução dos principais problemas. No consumo descontrolado propulsionado por modas efémeras e obsolências planeadas, não se tocou. esta última deve ser a maior evidência que não existe qualquer preocupação com o ambiente. Já toda a gente deitou fora equipamentos praticamente novos porque “avariou a placa electrónica” que custa mais que uma nova máquina completa.

À nossa micro-escala também estamos inseridos neste mundo e também nós causamos algum impacto no planeta (basta estar vivo). A nossa livraria tem como principal actividade a importação por via aérea de livros dos EUA, em 31 anos são muitas viagens de avião.

Também há décadas que nos preocupamos com o ambiente, mas nunca fizemos grande alarido. Aliás, a publicidade e o marketing verde tornaram-se inversamente proporcionais a qualquer preocupação real, mais ainda a qualquer acção concreta — o green washing está agora por todo o lado.

No Brasília, sugerimos a instalação de painéis solares fotovoltaicos nos terraços o que foi aceite e implementado na parte nova e está em instalação nas fases mais antigas. Depois disso, sugerimos a instalação de mais painéis para produzir energia para as lojas, o que está em estudo. E durante toda a vida da livraria, temos implementado pequenas medidas, desde utilização de papel reciclado, reutilização das caixas para envios postais (nunca compramos caixas, nem durante a pior fase Covid-19), eliminação do desperdício ao máximo, separação de lixo e muitas outras.

Mas o que fizemos de mais significativo foi a aquisição de cinco hectares de terra em Cinfães, metade agrícola e a outra metade florestal de exploração condicionada. Plantamos cerca de 1.000 árvores, que com mais outras tantas que já lá estavam, efectuam o offset de carbono das nossas actividades, tornando-nos não carbono zero ou neutral, mas efectivamente carbono negativo, absorvemos mais do que o que emitimos. E isso é apenas uma parte, pois pela conservação, contribuímos para a vida selvagem e biodiversidade.

Cinfães
Por volta de 2002 ou 2003.
Cinfães
Actualmente.
Frade, Macrolepiota procera e Crocus serotinus.

Visto no Google Maps a nossa parcela de terreno é agora um bosque fechado. A principal preocupação é que não arda, o que deitaria por terra muito do esforço. Todos os anos se limpa (cortar matos) e se faz alguma gestão. Para já tem resultado e apesar de não ser com muito alarido, agora já sabem. E se não fosse mesmo no fim, teria conseguido não utilizar a palavra “sustentabilidade”, que também anda por aí muito gasta. Obrigado por serem nossos amigos e clientes.