O desenhador português Filipe Andrade, foi escolhido pela Marvel para desenhar Figment, uma banda desenhada integrada no universo Disney Kingdoms. O primeiro número desta mini-série estará à venda nos Estados Unidos já no próximo dia 4 de Junho (chega à Mundo Fantasma pouco depois).
Este é mais um passo na criação de projectos conjuntos entre a Marvel e a Disney, na sequência da compra da editora por esta última, algo que, com certeza, veremos cada vez mais nos próximos tempos e com uma amplitude que muitos não imaginariam, com cruzamentos entre os vários universos, a exemplo do que aconteceu no verão passado com a participação dos Avengers num episódio televisivo de Phineas e Pherb.
Mas não é esse o tema deste texto, pois as ambições de Figment, projecto comum da Marvel e da Walt Disney Imagineering, são outras.
Mini-série de cinco episódios desenhada por Filipe Andrade, com capas de John Tyler Christopher (ficando as variantes a cargo de Andy Gaskill e Tom Morris), foi escrita por Jim Zubkavich, criador de Skull-Kickers (Image Comics), Samurai Jack (IDW) ou Amanda Waller (DC Comics), este último com o também português André Coelho. As personagens principais são Dreamfinder, um excêntrico inventor e intrépido explorador, e o dragão por ele criado, que dá nome à série, cujas origens vão ser agora conhecidas. Refira-se, a propósito, que ambos são mascotes bastante populares do percurso Journey into Imagination, do Epcot® Theme Park, no Walt Disney World, onde naturalmente virão a estar à venda exemplares desta banda desenhada, o que lhe confere uma visibilidade acrescida.
Em declarações exclusivas para a escrita deste texto, Filipe Andrade revelou que Figment “surgiu entre conversas e projectos que foram acontecendo entre o final do ano passado e o início deste, com o editor William Rosemann”, entre os quais se conta nomeadamente a mini-série Seekers of the Weard (2014), integrada no universo Disney Kingdoms e igualmente desenhada por Andrade.
Concretizado o convite, foi aceite de imediato, mesmo sendo à partida “um livro para todas as idades”, o que implicou que o desenhador se tivesse de adaptar pois a sua praia “não é propriamente esta”.
Na verdade, conforme específica, “a história é menos vertiginosa (que os habituais comics de super-heróis), sem grandes momentos de acção ou quebras de narrativa. É um conto fantástico muito Disney”. Tudo isto obrigou-o a fazer alguns ajustes no seu estilo habitual mas, “mais do que o traço” que surge claramente mais caricatural e de certo modo próximo do desenho animado, foi “o layout de página” que implicou maiores cedências, pois este “acaba por ser mais clássico.” E remata: “mais teatro do que cinema”!
Sendo óbvio que as personagens principais “já estavam mais ou menos definidas”, Filipe teve de se empenhar especialmente na criação “do ambiente da história e das personagens novas” e reconhece que “essa tem sido a melhor parte: criar o mundo onde os personagens se envolvem e desenvolvem”, inexistente até agora.
A história começa com “um cientista, chamado Blair, com muita imaginação mas pouco disciplinado, que trabalha na Academia de Ciências de Londres, em 1910”, no período pós-revolução industrial. Como é habitual nestes casos, “um dia uma das suas experiências explode e chama a atenção do chairman da instituição que o passa a manter debaixo de olho”.
Apesar disso, consegue reconstruí-la “e quando liga novamente a máquina faz gerar um produto da sua imaginação: Figment, uma espécie de dinossauro bebé, de cor púrpura”. Este revelar-se-á muito curioso e corajoso e com ele os leitores serão levados a locais fantásticos com habitantes estranhos, desafios inesperados e grandes sonhos, pois a explosão tem outras consequências, nomeadamente a criação de “uma passagem para um mundo alternativo, quente e steampunk, ao qual acabarão por ir parar” e onde se desenrolará a maior parte da acção, como será possível constatar a partir de Junho.
Filipe Andrade, que trabalha para a editora desde 2010, reconhece que este “é um projecto menos Marvel e mais à imagem Disney”. Mas salienta “o facto de ser um arco de história com princípio, meio e fim, o que é muito importante, pois os leitores têm oportunidade de ver e ler a história toda com a mesma arte”. No caso, a sua, tal como aconteceu em 2011 com a adaptação da novela de Edgar Rice Burroughs que esteve na origem do filme John Carter de Marte.
Sobre o trabalho do desenhador luso, o argumentista Jim Zubkavich afirmou em entrevista que ele “conseguiu captar e transmitir o estilo steampunk do livro juntamente com a inocência de Figment”, acrescentando que “o seu traço revela a personalidade e a emoção que ele aplica no trabalho”.
Filipe Andrade, recorde-se, é o desenhador português com mais obras feitas para a Marvel, desde que em 2010 foi seleccionado por C. B. Cebulski na sequência de uma análise de portfólios.
Para além dos já citados John Carter: A Princess of Mars (2011), com argumento de Roger Langridge, e Seekers of the Weard (2014), escrita por Brandon Seifert, foi igualmente o responsável pelo grafismo de uma outra mini-série, Onslaught Unleashed (2011), escrita por Sean McKeever e protagonizada conjuntamente pelos Young Allies (com Nomad, Spider-Girl, Gravity, Toro e Firestar) e também os Secret Avengers (Captain America, Black Widow, Moon Knight, Beast, Ant-man e Sharon Carter).
Para além disso, o traço personalizado de Filipe Andrade, anguloso e esguio, assumidamente avesso à manutenção das proporções do corpo humano, em nome da dinâmica das cenas, deixou a sua marca igualmente nos comics #9 a #12 da fase recente da Captain Marvel, escrita por Kelly Sue DeConnick e Christopher Sebella, e em vários one-shots de Iron Man, Nomad, X-23 ou X-Men.
Mas, com os super-heróis de lado de momento, Filipe Andrade acabou “de começar o terceiro livro desta mini-série” pelo que está concentrado em concluir este projecto. Apesar disso, revela que “em breve haverá novidades” na sua carreira “sobre as quais, no entanto, ainda é cedo para falar”.