Com um conjunto de desenhos — esboços, diagramas, apontamentos — Nuno Sousa apresenta um projecto sobre a sua própria família. Num contexto onde praticamente não existe espólio documental (ausência de fotografias de família) o autor desenvolve um projecto centrado nas memórias dos seus familiares mais próximos e onde os seus relatos se misturam com a sua própria interpretação desses relatos.
O projecto desenvolve-se a partir da história de um antigo palacete (entretanto já demolido ) situado na Rua Conde Alto Mearim, onde os seus avós, mãe e tios viveram.
E é através destas imagens dispersas, destes fragmentos e estilhaços de memórias individuais e colectivas que Nuno Sousa lança as pistas e as pontes para o que pretende que seja a sua próxima narrativa gráfica.
Durante cerca de trinta anos, os meus avós paternos, assim como a minha mãe e meus tios, viveram num palacete do séc. XIX em Matosinhos, antiga propriedade do Conde de Alto Mearim, junto ao mercado municipal. O meu avô era na altura vigilante do armazém de uma empresa de exportações que tinha comprado o palacete uns anos antes. De um modo particularmente irónico, a minha mãe e os meus tios, que sempre viveram no limiar da pobreza e não tiveram a possibilidade de estudar, viveram durante a sua infância e adolescência num palacete (mais propriamente, num anexo do palacete, mas tendo acesso a todo o terreno da quinta e a parte do edifício principal) onde décadas antes havia vivido um conde e a sua família. O edifício foi entretanto demolido em 1973, tendo a minha família passado a habitar um aparta- mento perto do local.
Alguns anos mais tarde, aperceberam-se de que não possuíam fotografias do edifício, sendo que até hoje não se conseguia encontrar nenhuma imagem com suficiente definição que pudesse documentar como tinha sido o palacete. As únicas imagens encontradas provém de registos fotográficos aéreos do porto de Lei- xões, onde o referido palacete é visto muito ao longe, perdendo-se no meio do arvoredo que o circundava. As histórias passadas nesse espaço, assim como a curiosidade da desproporção entre o nível económico de vida dos seus habitantes e a grandiosidade do local, marcaram, até aos dias de hoje, as gerações de familiares que não chegaram a conhecer o edifício.
Data
Inauguração dia 2 de Maio de 2015