Este mês o imaginário dos fãs de banda desenhada foi tomado de assalto pela denominada Comic-con Portugal. Na página do Facebook atingiram praticamente 8.000 “gostos” em poucos dias, mas para além disso não há mais nada e há vários sinais negativos. Como positivo, o formato colado a outras artes, media e actividades, que costumam andar de mão dada com a banda desenhada, mas não são banda desenhada. Infelizmente a bd por si só, não atrai as multidões necessárias para tornar um evento destes viável. E não é só cá, em San Diego (onde o formato aparentemente nasceu, ou foi nascendo), os autores, editoras e restante comunidade dos comics, já há uns anos que se sentem como convidados na sua própria casa, tal é a preponderância dos jogos, cinema e tv. Também não deixa de ser verdade que cada vez mais autores vêem as suas obras adaptadas para um desses meios. Está tudo interligado, é um sinal dos tempos.
Muito negativo é a tentativa deliberada de associar a Comic Con Portugal à de San Diego, ou de pelo menos criar confusão suficiente para a dúvida existir (Eurogamer). “Depois de correr o mundo, agora é a vez do nosso país ser um dos anfitriões do evento“, assegura a Magazine HD (mais o vídeo de um evento em Londres divulgado pela Comic Con Portugal). Desmentida essa situação em alguns locais mas não todos ((A Comic-con International também foi contactada por alguns fãs mais atentos e já desmentiu essa ligação.)), continua a ver-se publicados na página do Facebook filmes de Comic-cons sem qualquer relação com esta organização nacional ou com a de San Diego e sem qualquer disclamer. De Toronto, organizada pela Hobbystar; de Londres organizada pela MCM Expo Group; a de San Diego é organizada pela Comic Con International. O blogue O Café do Nerd assegura que a Conventions in the yard, já é “bastante conhecida por organizar este tipo de evento, especialmente em Londres”, o que é extraordinário para uma empresa portuguesa tão recente. O site Eurogamer diz que “foi criada recentemente por profissionais que possuem uma experiência de mais de 15 anos na organização de eventos nacionais e internacionais”.
Outro aspecto bastante negativo desta colagem às Comic-cons ao estilo americano e que cavalga a confusão deliberada é ser um evento apresentado como o primeiro. De quê? Ninguém sabe. No Diário Digital por exemplo, o título não engana “Comic Con chega pela primeira vez a Portugal“. E vai mais longe, exclamando que a “Conventions in the yard vai trazer a Portugal um dos maiores eventos de cultura pop do mundo” ((Diz que em França a convenção atingiu os 220.000 visitantes. A que se refere este jornalismo que temos? A Angoulême?)). Ora isto não honra de forma nenhuma esta organização. Eventos deste género já houve alguns, foram mais modestos no anúncio, mas existiram e continuam a existir vários. Se é o primeiro exactamente à imagem do de San Diego, não sei. Como ainda não aconteceu, parece que teremos de esperar para ver.
Além disto, há data e o local, mais nada. Nada? Nada. A página oficial no dia de hoje tem um link para o Facebook e um formulário para fazer parte de uma mailing list. Não há uma única linha de informação concreta e objectiva sobre um único aspecto da Comic Con, designadamente sobre aquilo que os fãs gostariam de saber, por exemplo que estrelas cá vêm — pela conversa no Facebook parece que os fãs são essencialmente de séries de tv (o que não admira pois em destaque na divulgação entusiástica está um site chamado Séries de TV ((Por exemplo o único comentário na notícia no Diário Digital “Uma das melhores novidades deste ano! Fantástico! :D”))) e estão a contar com estrelas de primeira linha… Esperemos que sim. Até lá — como diria o Larry David —, como apreciadores de banda desenhada e não desfazendo nas outras artes, Curb Your Enthusiasm.